ULTIMOS INSTANTES


«Car tel un homme pense dans son couer, tel il est»
(provérbios 23;7)


ULTIMOS INSTANTES

Tudo me comove entre o luar que nasce
E a palidez desta vida que se vai
Enche-se o meu ser de neve
Tão próximo da verdade que asfixia

Oiço aquela voz afável do enfermeiro
“Estamos aqui, estamos consigo”.
O hálito condensa este vapor leve
Não podes ficar nesta cama comigo

Ele volta o enfermeiro
Analisa, olha, comunica assim
Põe a mão sobre o meu ombro
Precisa algo de mim?

A dor traz pela mão
Ondas de verdadeira ternura.
Estamos ambos a compreender
As palavras simples da amargura.

Sou como a chuva e o vento
Já não sei falar de outra maneira
Sou brisa á beira da tua cruz
O dolorido acendeu esta fogueira

Então manter-me junto de ti
Significa que continuas vivo…,
Um carinho, um gesto uma mão
São o meu incentivo.

Sabes de que me lembra?
Duas lágrimas que verti para ti
Do encontro em doce enleio
Só me esqueci do que sofri.

Paciente e família num esforço mutuo
Em que fala a voz do querer dar.
O zéfiro mais leve age e transforma
Apaga a solidão ao acompanhar.

Nada acabou, tudo começou…

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